Tudo aquilo que a gente faz por amor à camisa | PNGWing
No começo do ano atravessamos uma floresta de expectativas, projeções, metas e sonhos pros próximos meses. Em pouco tempo, a vida prática soterra essas mesmas expectativas, projeções, metas e sonhos pros próximos meses. Esquecemos tudo, tocamos o barco, seguimos em frente.
E da última volta do ponteiro de dezembro aos primeiros passos de janeiro, o amor é figurinha carimbada nas tais expectativas, projeções, metas e sonhos. Ah, o amor! Cadeira cativa em músicas, filmes, livros e demais obras artísticas.
No coração da nossa humilde newsletter também tem espaço pra esse sentimento paradoxalmente inexplicável – e cheio de explicações, por que não?
Quase toda história de amor não muito convencional (e às vezes platônica) começa com um flerte. O lugar, a primeira piscadela, qual das partes puxou papo, quem se ofereceu pra pegar uma cervejinha? Pouco importa, ninguém sabe ao certo. Um passarinho com a asa quebrada nos contou que a ficção olhava pra literatura de futebol faz tempo. Um olhar lascivo, profundo, cheio de intenções, um pouco constrangido.
E como é impossível domesticar o desejo, ficou nítido que os dois “davam match”. Esse casal combina, pensaram uns boleiros. Juntos, ficção e literatura de futebol vão construir uma história que vai longe, comentavam uns literatos.
Não é que ficção e literatura de futebol começaram a se pegar? Primeiro às escondidas, nos cantos, às escuras, nas madrugadas, em lugares pouco frequentados. Meio tímidos em contos publicados aqui e ali, se apresentando juntos nas festas e encontros, rascunhando mãos dadas e abraços públicos. Que o digam O drible, A falta, O drible da vaca, Saída Bangu, Empate, O último a ser escolhido, Vocês vão ter que me engolir, Você não quer ficar sozinho, Elogio do Maracanazo e outros frutos desse tão promissor relacionamento.
Que poderia render mais, é verdade. Mas a literatura de futebol tem suas dificuldades pra demonstrações públicas de afeto. A ficção parece sempre ali, de olho e à disposição, alimentando a vã esperança de dar um passo adiante. E a literatura de futebol prefere relacionamentos mais estáveis com reportagens, táticas, grandes campeonatos e personagens reais da história boleira. Com idas e vindas, grandes momentos e dias esquecíveis, mesmo que a rotina se confunda com a mesmice um dia ou outro.
Pra gente maldosa, a ficção é muita areia pro caminhãozinho da literatura de futebol. Pra gente maledicente, o casal anda em calçadas opostas e “os opostos se atraem” é uma frase-clichê com generosas doses de mentira.
Quando se ausentam de uma mesa de bar, literatura de futebol e ficção viram assunto. Falamos sobre histórias a serem criadas e compartilhadas pelo casal. Comentamos sobre inseguranças que deveriam ser deixadas de lado. Chegamos à conclusão que literatura de futebol e ficção mereciam se permitir mais. Sem medo de contar pra todo mundo que nasceram uma pra outra.
Volta e meia, criamos encontros e convidamos as mesmas pessoas de sempre. Dá pra ver o brilho no olhar quando literatura de futebol e ficção se encontram. E todo mundo fica meio de lado, meio ressabiado, meio sem graça, meio certos que ali vai dar jogo.
Passa o tempo e a obviedade joga um balde de água fria em gente mais esperançosa. A ficção alimenta um amor platônico com a literatura do futebol, que sempre lhe brinda com um ghosting. Não responde mensagens, some, se sente no direito de brincar com os sentimentos de quem tanto lhe quer bem.
Como todo bom amor platônico, as esperanças seguem alimentadas, passa-se pano pra toda mancada e desleixo com quem tanto doa afeto. E a gente sabe, claro que a gente sabe!, que num futuro nada distante a literatura de futebol vai voltar a entrar em contato com a ficção. Um “oi, sumida!” antes de perguntar como tá a vida, se tem compromisso no fim de semana, se tá saindo com alguém. Essas coisas, nós sabemos como funcionam essas coisas.
Porque em todos os meses do ano, com expectativas furadas e planos frustrados, o amor é assim mesmo: difícil de explicar, fácil de sentir, facílimo de julgar.
Tabelinha
DICAS DE LEITURA
Amamos uma boa literatura de futebol, seja ficcional ou não. Compartilhamos, então, textos e livros pra incluir na meta de leituras das próximas semanas.
Futebol, uma ficção
Um breve ensaio sobre esse namoro, que parece nunca ir pra frente, entre a ficção e o futebol na literatura.Gamarra
Conto do grande Alexandre Alliatti, publicado na edição 3 da Revera, revista do Instituto Vera Cruz. Começa na página 168.Travessão #3
Pra quem perdeu a edição anterior da newsletter, a última do ano passado, nos perguntamos se dá pra ler futebol sem gostar de futebol.
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Travessão é a newsletter mensal da Dolores, uma editora dedicada ao universo do futebol. Sempre na primeira segunda-feira do mês, direto no seu e-mail.
Esta é a quarta edição, encerrando uma série de quatro textos escritos pelos próprios Editores. Devemos ter novidades na próxima, a quinta, estreando convidados/as. o/
Edição, redação e revisão Leandro Marçal e Raul Andreucci
Direção de arte Pedro Botton do Estúdio Arquivo